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Controlo natural

Português, Portugal

 

O controlo natural* de plantas invasoras consiste na utilização de inimigos naturais (e.g., os insetos que causam as galhas/bugalhos nos carvalhos, os gorgulhos que comem sementes ou as larvas que comem folhas), das regiões de origem dessas plantas, para reduzir o seu vigor ou potencial reprodutivo. Este tipo de controlo baseia-se no princípio de que um dos fatores que contribui para as plantas se tornarem invasoras é serem introduzidas numa nova região sem qualquer dos seus inimigos naturais.

Estas espécies ficam assim em vantagem relativamente às espécies nativas que têm os seus inimigos naturais que se alimentam delas, lhes causam doenças ou diminuem o seu crescimento de outra forma. Basicamente, o controlo natural é então uma tentativa de retirar às espécies exóticas a sua vantagem competitiva, reduzindo o seu vigor para valores semelhantes aos das espécies nativas.

Os agentes de controlo natural não exterminam completamente as populações das suas plantas hospedeiras. Na melhor das hipóteses, reduzem a densidade da espécie invasora até níveis aceitáveis ou reduzem o seu vigor e/ou potencial reprodutivo. O facto de algumas plantas sobreviverem assegura que o agente não desaparece, levando a que o controlo biológico possa ser encarado como um método autossustentável.

Em Portugal e até 2020, apenas um agente de controlo biológico foi libertado para controlar uma planta invasora: o insecto Trichilogaster acaciaelongifoliae (Hymenoptera: Pteromalidae) que forma galhas nas gemas florais e vegetativas de Acacia longifolia impedindo a formação de até 90% das sementes. Este agente é utilizado com sucesso na África do Sul desde 1982, e em Julho de 2015 foi autorizada a sua libertação em Portugalestando em curso desde Novembro desse ano libertações deste agente e respectiva monitorização, observando-se estabelecimento desde 2016. Anteriormente, os testes de especificidade, em quarentena, para avaliação da segurança da utilização de T. acaciaelongifoliae em Portugal foram concluídos em 2010. Estudos a vários níveis têm acompanhado a libertação do agente, desde formas de detectá-lo através de drones, previsões sobre efeitos indirectos e distribuição

O Jornal i na secção “Saberás tu…”, que resulta de uma colaboração com a Ciência Viva explicou, a 19 de Novembro de 2015, o que é controlo natural de uma forma resumida:

 

*de forma a simplificar e evitar confusão com o controlo biológico utilizado no controlo de pragas de plantas, optamos por utilizar preferencialmente a expressão “controlo natural

 

O controlo natural para plantas invasoras foi autorizado em Portugal em Julho de 2015, apenas para uma planta invasora: acácia-de-espigas. O início da libertação deste agente de controlo natural no ambiente está prevista para Outubro/Novembro de 2015. Foram também iniciados estudos com outras espécies. No entanto, para controlo de pragas de plantas (e outras) estão disponíveis vários agentes.

A aplicação de controlo natural não funciona de forma semelhante às outras metodologias. Na fase atual, em Portugal (i.e., ainda em fase inicial), a introdução e libertação de agentes de controlo natural só deve ser levada a cabo:

-por especialistas que tenham o conhecimento e experiências necessários sobre os agentes de controlo natural e sua interação com as plantas;

-após realização de testes de especificidade, normalmente em instalações de quarentena com grau de segurança elevado, nas quais os organismos possam ser estudados sem o perigo de escaparem.

Estas experiências determinam se o candidato a agente de controlo natural tem capacidade de usar outras plantas, além da planta-alvo, como hospedeiros ao longo do seu ciclo de vida, assim como as suas preferências. Só agentes provados suficientemente específicos para os hospedeiros deverão ser posteriormente libertados.

-depois de sujeitos aos regulamentos de segurança impostos pelas entidades governamentais competentes;

-depois de discutido o projeto de introdução com especialistas com experiência no assunto.

Ainda que apresente algum risco, se realizado corretamente o controlo natural é muito vantajoso, sob vários aspetos:

– É um método amigo do ambiente uma vez que não polui e afeta apenas a espécie invasora alvo;

– Auto mantém-se sendo por isso um método sustentável;

– A sua relação custo-benefício é muito favorável, principalmente quando se usam agentes de controlo natural já selecionados noutros locais;

A introdução de organismos de uma região para outra acarreta sempre perigos, e são conhecidos exemplos de agentes de controlo natural exóticos (introduzidos propositada ou acidentalmente) que causaram muitos danos, nomeadamente nas espécies nativas*. A grande maioria desses maus exemplos (a nível internacional), derivam de agentes libertados antes da segunda metade do séc. XX, correndo riscos baseados em argumentos considerados válidos nessa altura (e.g. aceitando a introdução de agentes generalistas).

Devido a estes riscos o controlo natural de espécies exóticas invasoras tem evoluído para uma ciência altamente especializada que procura selecionar agentes o mais específicos possível, de forma a impedir a introdução e libertação de organismos exóticos que se possam tornar nefastos. No entanto, há possíveis desvantagens neste método:

– Se não se realizarem os testes de especificidade corretamente, pode permitir-se a introdução de um agente que venha a afetar negativamente outras espécies;

– Alguns dos agentes de controlo natural operam de forma relativamente lenta;

– Se a introdução de um agente (depois de devidamente autorizada) não for realizada com o cuidado necessário e seguindo os procedimentos adequados, há o risco de introdução de organismos oportunistas/parasitas juntamente com o agente de controlo natural;

Louda SM, Pemberton RW, Johnson MT, Follett PA (2003) Nontarget effects – The Achilles’ Heel of biological control? Retrospective analyses to reduce risk associated with biocontrol introductions. Annual Review of Entomology 48: 365-96.

acácia-de-espigas (Acacia longifolia) é uma das plantas invasoras com carácter mais agressivo em Portugal. Nas regiões da Austrália onde é nativa esta espécie é atacada por várias espécies de insetos, alguns dos quais muito especializados, i.e., afetam-na apenas a ela. Trichilogaster acaciaelongifoliae (vespa-australiana-formadora-de-galhas) é um desses inimigos específicos, o qual mantém a espécie em equilíbrio.

O primeiro efeito do insecto é a redução substancial do número de sementes, através da formação de galhas nas gemas florais em desenvolvimento. A longo prazo, tal conduz à redução da regeneração em áreas que tenham sido queimadas, mas no imediato reduz o ritmo de dispersão da invasora. Além disso, os efeitos debilitadores do insecto levam à redução da quantidade de folhada produzida de forma que mais luz atinge o solo, ficando disponível para outras espécies da flora. Por outro lado, as plantas de A. longifolia ficam mais susceptíveis ao stress ambiental como a seca.

Em Portugal, foram realizados testes de especificidade, em quarentena, para avaliar a hipótese de utilização de Trichilogaster acaciaelongifoliae. Os bons resultados obtidos nos testes* conduziram à autorização da sua libertação, pelas autoridades competentes, em Julho de 2015. As primeiras largadas deste inseto decorreram em Outubro/Novembro de 2015.

A introdução deste agente de controlo biológico poderá representar a forma mais eficaz, economicamente menos dispendiosa e com melhores resultados para a conservação da natureza, para resolver o problema da invasão por Acacia longifolia.

Marchante H, Freitas H, Hoffmann JH (2010) Assessing the suitability and safety of a well-known bud-galling wasp, Trichilogaster acaciaelongifoliae, for biological control of Acacia longifolia in Portugal. Biological Control 56(2): 193-201.