Plantas invasoras são plantas não-nativas que causam impactes ambientais e económicos negativos
Muitas das plantas que nos rodeiam foram transportadas do seu habitat natural para outros locais pelo que são denominadas plantas exóticas (do grego exotikós, “de fora”; ou não-nativas). Algumas destas espécies coexistem com as espécies nativas de forma equilibrada, mas outras há que se desenvolvem muito rapidamente e escapam ao controlo do Homem tornando-se nocivas – estas são designadas espécies invasoras. Além de superarem as barreiras geográficas, estas espécies conseguem superar barreiras bióticas e abióticas, mantendo populações estáveis.
Exemplos de locais de origem de espécies de plantas invasoras em Portugal.
As espécies exóticas que atualmente revelam comportamento invasor em Portugal têm origem nas mais variadas regiões do Mundo; algumas das nossas espécies nativas também foram transportadas para outras regiões e, aí chegadas, tornaram-se invasoras.
Uma planta exótica passa a ser considerada invasora quando: i) se reproduz de forma autónoma e numerosa; ii) se afasta dos locais onde foi inicialmente introduzida, tanto no espaço como no tempo (mais de 100 m, em menos de 50 anos para espécies dispersas por sementes ou outros propágulos; mais de 6 m, cada três anos, para espécies com reprodução vegetativa, por estolhos, rizomas, partes de raízes ou outros), independentemente do grau de perturbação do meio e sem a intervenção direta do Homem; iii) atinge grandes densidades; e consequentemente iv) promove alterações ambientais e/ou prejuízos socioeconómicos negativas, apesar de também poder promover impactes positivos a alguns níveis.
Apesar de neste site se falar principalmente de plantas invasoras, há organismos invasores em todos os grupos de seres vivos: desde o fungo da ferrugem à cólera, passando pelo lagostim‑vermelho (Procambarus clarkii), pela formiga‑argentina (Iridomyrmex humilis), por numerosos insetos da madeira, pelo nemátode‑do‑pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus), pela vespa-asiática (Vespa velutina) ou pelo escaravelho-vermelho-das-palmeiras (Rhynchophorus ferrugineus), além de muitos outros.
As espécies invasoras são comparadas a uma forma de poluição que, ao contrário de outras, não cessa quando se elimina a fonte de emissão.
Por que representam um problema?
Apesar dos aspetos positivos que terão justificado, por vezes, a introdução de espécies invasoras, estas são responsáveis por muitos impactes negativos, muitas vezes de difícil e dispensiosa resolução e, em alguns casos, irreversíveis. As espécies exóticas invasoras são consideradas atualmente uma das principais ameaças à biodiversidade e aos serviços dos ecossistemas (IPBES, 2019). Entre os impactes negativos são de referir:
1) impactes económicos elevados, quer ao nível da produção, nomeadamente quando são espécies que invadem áreas agrícolas, florestais ou piscícolas, quer na aplicação de medidas de controlo e recuperação de sistemas invadidos – a nível Europeu, uma estimativa feita no início do seéculo XXI referia já perdas próximas de 12 mil milhões €/ano associadas às espécies exóticas invasoras (Hulme et al. 2009);
2) impactes na saúde pública, quando são espécies tóxicas, cortantes, que provocam doenças, alergias, ou funcionam como vetores de pragas;
3) diminuição da disponibilidade de água nos lençóis freáticos, no caso de espécies muito exigentes no seu consumo e que crescem em grande densidade, implicando perdas avultadas neste recurso que é escasso em muitas partes do mundo;
4) impactes no equilíbrio dos ecossistemas conseguido ao longo de milhares de anos de evolução, por exemplo, através da alteração dos ciclos biogeoquímicos (ciclo do carbono e do azoto), uniformização dos ecossistemas, alteração dos regimes de fogo e das cadeias alimentares, ou competição com espécies nativas chegando, por vezes, a substituí-las completamente, etc.
5) impactes nos serviços dos ecossistemas, afetando desde a produção de alimentos, o fornecimento de água e recursos diversos, a regulação do clima, cheias, doenças, o valor estético e cultural das paisagens, etc.
Neste contexto, as espécies invasoras são uma das maiores ameaças ao bem-estar ambiental e económico do planeta. Ainda assim, algumas espécies invasoras foram introduzidas intencionalmente para determinados fins e são utilizadas pelas populações, pelo que podem também ter impactes positivos, sendo por isso a sua gestão por vezes alvo de controvérsia e causa de conflitos.
Todas as plantas exóticas são invasoras?
Não. Muitas plantas exóticas não têm comportamento invasor. Considerando todas as plantas exóticas que são introduzidas (círculo a cheio, na Figura), a maioria permanece com uma distribuição restrita aos locais onde foram colocadas. Outras podem florir e até reproduzir-se ocasionalmente, mas não chegam a formar populações que se automantêm, dependendo de introduções repetidas para a sua persistência – plantas casuais. Destas, uma fração estabelece-se para além do local de introdução inicial, reproduz-se persistentemente e forma populações que se mantêm ao longo do tempo, sem a intervenção direta do Homem, permanecendo em equilíbrio em habitats seminaturais. Quando tal sucede, diz-se que essas plantas estão naturalizadas.
Numa fração das espécies naturalizadas, o equilíbrio pode ser interrompido por um qualquer fenómeno que estimule o aumento rápido da sua distribuição (o estímulo pode ser uma perturbação natural, como a adaptação de um agente que disperse as sementes ou de um polinizador, a ocorrência de uma tempestade ou mudanças climáticas; ou uma perturbação causada pelas atividades humanas, como alterações do uso do solo, a ocorrência de um incêndio ou, inclusivamente, o controlo de outra espécie invasora.), desencadeando o processo de invasão biológica.
Algumas espécies adaptam-se muito facilmente e revelam comportamento invasor logo após a sua introdução num novo território, aparentemente sem necessidade de qualquer estímulo. Outras podem demorar muitos anos até se adaptarem e revelarem comportamento invasor.
Principais etapas de um processo de invasão biológica.
Muitas das perturbações acima referidas traduzem-se na abertura de clareiras, o que constitui uma excelente oportunidade para uma espécie invasora se fixar. Tendo em conta as alterações globais e climáticas, é provável que algumas destas perturbações se tornem mais frequentes, o que poderá agravar e acelerar processos de invasão biológica. O subsequente aumento da distribuição de uma espécie invasora (curva ascendente, na Figura) depende da sua taxa de crescimento e reprodução, da eficiência dos seus mecanismos de dispersão e das características do habitat invadido. De forma geral, habitats bem conservados são mais resistentes à invasão, mas nem sempre.
O que caracteriza uma planta invasora?
A grande diversidade de plantas invasoras implica que as suas características sejam diversas. No entanto, há algumas características que são mais frequentes e comuns a várias destas plantas, por exemplo:
1) têm crescimento rápido e/ou grande capacidade de propagação;
2) competem mais eficientemente pelos recursos disponíveis do que as espécies nativas;
3) produzem muitas sementes, as quais podem ser viáveis por longos períodos de tempo e/ou dispersar facilmente;
4) são espécies pirófitas, adaptadas e favorecidas pelo fogo, nomeadamente, a germinação de sementes (por exemplo, acácias), o rebentamento de touças e raízes (por exemplo, acácias e robinia), ou a abertura dos frutos (por exemplo, háqueas) podem ser estimuladas pelo fogo, o que é particularmente grave numa área Mediterrânica como aquela em que vivemos;
5) no local onde são invasoras, não têm inimigos naturais uma vez que que estão deslocadas do local de origem;
6) reproduzem-se vegetativamente sem necessidade de produção de sementes para dispersar;
7) no local de origem têm uma distribuição alargada, estando adaptadas a condições diversas, etc.
Estas características não estão necessariamente todas presentes numa espécie invasora. Adicionalmente, outras características podem contribuir para o comportamento invasor das espécies.
Exemplos ilustrativos de características de plantas invasoras. Da esquerda para a direita: inflorescência de erva-das-Pampas (Cortaderia selloana), com milhares de sementes minúsculas dispersas pelo vento; semente de austrália (Acacia melanoxylon), com arilo alaranjado que atrai aves, que dispersam as sementes; chorão-das-praias (Carpobrotus edulis), cujos fragmentos se propagam vegetativamente; fruto aberto de háquea-picante (Hakea sericea) - o fruto abre em reação à secura (por ex., fogo ou morte da planta) e liberta as sementes aladas que iniciam novos focos de invasão a muitos metros das plantas-mãe.
O Jornal i na secção “Saberás tu…”, que resulta de uma colaboração com a Ciência Viva, a 19 de Outubro de 2015, explicou o que são plantas invasoras de uma forma resumida:
Referências citadas:
IPBES (2019): Summary for policymakers of the global assessment report on biodiversity and ecosystem services of the Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services. S. Díaz, J. Settele, E. S. Brondízio E.S., H. T. Ngo, M. Guèze, J. Agard, A. Arneth, P. Balvanera, K. A. Brauman, S. H. M. Butchart, K. M. A. Chan, L. A. Garibaldi, K. Ichii, J. Liu, S. M. Subramanian, G. F. Midgley, P. Miloslavich, Z. Molnár, D. Obura, A. Pfaff, S. Polasky, A. Purvis, J. Razzaque, B. Reyers, R. Roy Chowdhury, Y. J. Shin, I. J. Visseren-Hamakers, K. J. Willis, and C. N. Zayas (eds.). IPBES secretariat, Bonn, Germany. 56 pages.