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Introdução de Trichilogaster acaciaelongifoliae em Portugal para controlo de Acacia longifolia

 

Prós:

  1. Actualmente, e tal como foi seguido no processo que levou à autorização para introdução de Trichilogaster acaciaelongifoliae em Portugal, o controlo natural (=biológico) de plantas invasoras segue princípios e protocolos cientificamente credíveis e rigorosos.
  2. Seguindo todos os protocolos e análises de risco (como foi o caso da introdução de Trichilogaster acaciaelongifoliae), o controlo natural (=biológico) é um método de controlo “Amigo do ambiente” e não poluidor (ao contrário dos herbicidas).
  3. Depois de realizados os testes de especificidade que comprovem a especificidade de um agente, como acontece com Trichilogaster acaciaelongifoliae, o controlo natural (=biológico) é um método específico que pode afectar apenas a espécie-alvo (neste caso a invasora Acacia longifolia (considerada invasora em Portugal, de acordo com o Decreto-Lei n.º 565/99, de 21 de Dezembro), incluindo as várias sub-espécies, longifolia longifolia, A. longifolia sophorae e A. longifolia floribunda) ou espécies muito próximas filogeneticamente (neste caso, apenas A. melanoxylon e Albizia lophanta pontualmente). De notar que os formadores de galhas, como é o caso de Trichilogaster acaciaelongifoliae, são de forma geral organismos muito específicos (não se vêem os bugalhos dos carvalhos noutras espécies).
  4. Na África-do-Sul, o agente Trichilogaster acaciaelongifoliae reduziu a produção de sementes (> 85%) e atrasou o crescimento vegetativo da invasora Acacia longifolia.
  5. Depois de estabelecido, Trichilogaster acaciaelongifoliae tem potencial para ser uma ferramenta-chave no controlo de Acacia longifolia, diminuindo não só a dispersão da espécie como o seu potencial de (re) invasão – consequentemente levará à diminuição da área invadida por esta espécie.
  6. Depois de estabelecido, Trichilogaster acaciaelongifoliae tem potencial para reduzir os muitos impactes negativos já quantificados de Acacia longifolia, a nível da biodiversidade (nomeadamente, comunidades de plantas, incluindo banco de sementes de plantas nativas, comunidades de galhadores e insectos associados), mas também a nível da química e microbiologia do solo (e consequente alteração a nível de ciclos biogeoquímicos), capacidade de recuperação dos sistemas invadidos, serviços ecossistémicos, por exemplo a nível de produção florestal, e a nível económico (investimento avultado em gestão e diminuição de produtividade florestal, etc.).
  7. A médio - longo prazo o controlo natural (=biológico) de Acacia longifolia com recurso ao agente Trichilogaster acaciaelongifoliae é um método de controlo que implica custos muito inferiores às outras alternativas existentes, além de contribuir para a maior sustentabilidade de outras técnicas de controlo (por exemplo, depois de controlo físico a germinação de sementes responsável pela rápida re-invasão das áreas diminuirá).
  8. Depois de realizadas as primeiras largadas e de o agente se estabelecer, o controlo natural (=biológico) torna-se um método mais sustentável já que Trichilogaster acaciaelongifoliae se reproduzirá e dispersará sem necessidade de posteriores intervenções.
  9. O controlo natural (=biológico) é reconhecido como uma das medidas de gestão das espécies invasoras globalmente, nomeadamente pela CBD, EPPO e Regulamento EU nº 1143/2014, de 22 de Outubro de 2014 (Artigo 19º, nº 2).
  10. Ainda que alguns maus exemplos (relativamente pontuais) tenham criado suspeitas e desconfianças, o controlo natural (=biológico) de plantas invasoras tem no geral (> 400 agentes libertados para controlo de plantas) um bom historial de segurança.
  11. O agente Trichilogaster acaciaelongifoliae contribuirá de forma estratégica e sustentável para qualquer plano de gestão que seja implementado para Acacia longifolia. Adicionalmente, o controlo natural é um método muito mais seguro para o utilizador, pelo que diminuirá o risco e número de acidentes de trabalho associados ao controlo mecânico e químico de espécies invasoras.

  Contras/ aspectos controversos:

  1. O agente Trichilogaster acaciaelongifoliae é uma espécie exótica introduzida no ambiente.

MAS os testes e análises realizadas e o seu historial na África-do-Sul (desde 1982) mostram que é seguro e específico. Adicionalmente, o seu estabelecimento está a ser estudado e monitorizado rigorosamente em Portugal.

  1. Há potenciais riscos para as espécies de plantas nativas/ não-alvo.

MAS, isso não é expectável no caso de Trichilogaster acaciaelongifoliae. Os testes de especificidade em Portugal e a experiência prévia na África-do-Sul, com mais de 30 anos, mostram elevada especificidade de Trichilogaster acaciaelongifoliae por Acacia longifolia (incluindo as várias sub-espécies, A. longifolia longifolia, A. longifolia sophorae e A. longifolia floribunda). Esporadicamente afecta espécies muito próximas filogeneticamente, como sejam Acacia melanoxylon e Albizia lophanta (ambas Mimosoideae, e com comportamento invasor em Portugal), mas o efeito sobre estas espécies é considerado negligenciável. Na África-do-sul este comportamento foi associado a densidades muito altas de Trichilogaster acaciaelongifoliae , após a primeira libertação, numa população muito abundante de A. longifolia. Após o pico inicial da população, a utilização de A. melanoxylon e P. lophantha não voltou a ser observada (Fiona Impson, Outubro de 2014, comunicação pessoal). Este tipo de ataque é denominado " spill-over"[1].

  1. O controlo natural (=biológico) pode implicar elevados investimentos em investigação.

MAS, no caso de Trichilogaster acaciaelongifoliae este organismo já foi seleccionado e estudado antes por especialistas sul-africanos, pelo que o investimento foi significativamente reduzido.

  1. O agente Trichilogaster acaciaelongifoliae não mata a espécie-alvo (Acacia longifolia)/ não a remove do ambiente.

MAS, a sua acção concretiza-se a nível da (redução) produção de sementes (na África-do-Sul atingiu valores entre 85% e 100%), uma das principais características que contribuem para a capacidade invasora de A. longifolia, já que cada planta pode produzir milhares de sementes por ano, que podem ficar viáveis no solo dezenas de anos e que podem ser dispersas principalmente por formigas, mas também por outros animais. Ao diminuir a produção de sementes, consequentemente reduz a quantidade de sementes acumuladas no solo (banco de sementes), reduzindo a capacidade da planta para se dispersar e (re) invadir novas (ou as mesmas) áreas.

  1. O agente Trichilogaster acaciaelongifoliae pode não reduzir 100% a produção de sementes de Acacia longifolia.

MAS, a taxa de redução previsível, entre 85% e 100%, com base nos resultados da África-do-Sul, ajudará significativamente no controlo desta planta invasora. Convém realçar que a esmagadora maioria dos medicamentos, métodos de controlo ou preventivos não reduzem em 100% os sintomas/probabilidade de adoecer e não deixam der ser utilizados por isso. Adicionalmente, a nível de controlo de A. longifolia, todos os outros métodos de controlo utilizados têm menor eficácia.

  1. O agente Trichilogaster acaciaelongifoliae pode sofrer mutações.

MAS, essa possibilidade é muito reduzida porque esta espécie é partenogénica (de forma simples, reproduz-se assexuadamente, não precisando de machos para a reprodução), pelo que a maioria dos descendentes resultam de reprodução assexuada. Adicionalmente, ao contrário de muitos insectos tem um ciclo de vida longo (um ano), o que reduz o nº de gerações por ano e logo a probabilidade de mutações.

  1. O agente Trichilogaster acaciaelongifoliae pode ter impactes a nível indirecto.

MAS, estamos a estudar e monitorizar de perto essa possibilidade. Sendo um formador de galhas, e esperando-se que o resultado seja a produção de muitas galhas, haverá um tecido novo na natureza (as suas galhas) que poderá ser utilizado por outros organismos. As galhas podem ter associados, além do galhador, parasitóides e inquilinos. Neste contexto, estamos a estudar as comunidades de galhas nativas e organismos associados de forma a poder avaliar efeitos a este nível. Os nossos estudos sugerem que pode haver impactes de Trichilogaster acaciaelongifoliae a este nível, por um lado parasitóides que podem dificultar o estabelecimento do agente, e por outro parasitóides ou inquilinos que possam beneficiar com a entrada do mesmo. São de realçar dois pontos: 1) a invasão por Acacia longifolia já reduziu muito a diversidade e abundancia de galhas nativas e organismos associados, pelo que qualquer medida no sentido de controlar A. longifolia terá impactes positivos nestas comunidades; 2) os muitos organismos exóticos que são utilizados em agricultura biológica, ou recentes introduções para a vespa-das-galhas-do-castanheiro ou para várias pragas de eucalipto, têm certamente efeitos a este nível e tanto quanto conseguimos apurar os efeitos indirectos não estão a ser avaliados (sem referir que a nível dos efeitos directos que foram infinitamente menos testados do que os de Trichilogaster acaciaelongifoliae, ou mesmo não testados de todo).

  1. O agente Trichilogaster acaciaelongifoliae colocou ovos em espécies não-alvo durante os testes de especificidade.

MAS, em nenhuma dessas espécies conseguiu completar o ciclo de vida. Portanto, estes efeitos foram considerados “falsos positivos” como acontece frequentemente em condições artificializadas de confinamento, uma vez que o agente, durante toda a sua vida entrou em contacto apenas com as espécies-teste.

  1. Quando a espécie-alvo diminuir Trichilogaster acaciaelongifoliae vai afectar outras espécies.

MAS, isso não é de todo expectável. O que se espera e o que se observou na África-do-sul, é que siga uma curva típica de “predador-presa”, ou seja, uma vez que Trichilogaster acaciaelongifoliae depende estritamente de Acacia longifolia para completar o ciclo de vida, quando esta diminuir ele diminuirá atrás dela. De qualquer forma, a libertação, estabelecimento e dispersão de Trichilogaster acaciaelongifoliae estão a ser monitorizados, estando todas as árvores onde se libertaram exemplares georreferenciadas e seguidas. Adicionalmente, estão em desenvolvimento protocolos para permitir detectar a distribuição do agente (ou seus efeitos) por detecção remota (incluindo imagens obtidas por drones e imagens de satélite).

  1. Trichilogaster acaciaelongifoliae pode comer outras plantas.

MAS, essa é uma falsa questão porque no estado adulto o insecto não se alimenta: as fêmeas emergem da galha, colocam os ovos nas gemas da planta-alvo e morrem em poucos dias, sem se alimentar. Os outros estágios do ciclo de vida desenvolvem-se na totalidade dentro da galha, utilizando os seus tecidos internamente.   [1] Taylor DB, Heard TA, Paynter Q and Spafford H, 2007. Nontarget effects of a weed biological control agent on a native plant in Northern Australia. Biological Control, 42, 25–33.